segunda-feira, 14 de maio de 2012

Reflexão

Esta peça ferrugenta é o que resta da base de uma papeleira que não resistiu ao ar salgado da beira-mar de Espinho. Oxalá ninguém tropece nela e se magoe

“Durante anos a Suiça tentou encontrar um sítio para armazenar o seu lixo nuclear, mas muito poucas comunidades  se mostraram disponíveis para o albergar. Wolfenschiessen, no centro do país, foi uma delas. Em 1993, na véspera de um referendo sobre o assunto, alguns economistas perguntaram aos locais se votariam a favor de um cemitério nuclear na sua comunidade se o parlamento aprovasse o projeto. 51% disseram que sim. Aparentemente o seu sentido de dever cívico foi superior à sua preocupação em relação aos riscos. Mas os economistas acrescentaram um doce: será que os locais votariam a favor do cemitério nuclear na sua vila se o parlamento os indemnizasse com uma compensação anual de 5,300 libras por residente. O apoio baixou para 25%. Reações semelhantes registaram-se em outros locais onde as comunidades mostraram resistência à instalação de cemitérios nucleares. Então por que razão é que havia mais gente pronta a aceitar o lixo nuclear de borla do que recebendo dinheiro? Para muitos moradores, a vontade de aceitar o cemitério nuclear refletia o espírito público, o reconhecimento de que o país no seu todo dependia da energia nuclear e que o lixo nuclear tinha que ser arnazenado algures. E se a sua comunidade tinha sido considerada o sítio mais seguro para o fazer, então estavam dispostos a assumir o sacrifício.  Por isso, a oferta de dinheiro soava-lhes a suborno, até parecia que lhes estavam a comprar o voto. De facto, 83% dos que rejeitaram a compensação monetária fizeram questão de explicar que não queriam ser subornados.”
Tradução livre e abreviada do artigo Too rich to queue? Why markets and morals don't fit, de Michael Sandel,  publicado no The Guardian de 11mai2012.

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