sábado, 6 de fevereiro de 2016

Reflexão - O poder do lóbi privado da água no Parlamento Europeu

Imagem captada aqui.

O poder do lóbi privado da água no Parlamento Europeu (PE) é cada vez mais intenso e grave, como demonstra este relatório de investigação sobre o denominado grupo da água do PE. 

Criado na legislatura de 2009-2014, este grupo deixou de existir oficialmente, assumindo agora caráter informal. Porém, continua a usar, indevidamente, o logotipo do PE para divulgar os seus eventos, num claro apoio à agenda privatizadora que promove. Via A Água é de Todos.

O comissário europeu português Carlos Moedas é um elemento muito ativo neste lóbi, em íntima relação com outros grupos como a WssTP, a EIP Water e a JPI Water.

Aliás, ele faz questão de sublinhar a importância do seu anterior currículo ligado a negócios de água potável e de esgotos para ajudar a promover programas de investigação e inovação na gestão da água e dos esgotos a nível europeu. Para tal, ele defende o aproveitamento das verbas europeias para investir em programas específicos, «remover barreiras», «desbloquear mais investimentos públicos e privados».

Reunir comissários europeus e multinacionais da água em pequenos almoços e jantares de trabalho para debater problemas da água é pisar território controverso. Não será por acaso que a lista dos participantes destas iniciativas tem sido mantida em segredo. Porém, a presença de oradores enviados pela Suez Environment ou pela Dow Chemical não deixam margens para dúvidas sobre o tipo de promiscuidade entre interesses públicos e privados. Para além da presidente do grupo, a holandesa Esther de Lange, esses eventos têm contado com a participação de Bruno Tisserand, colaborador da Fédération Professionnelle des Entreprises de l'Eau, poderoso lóbi francês. Carlos Moedas faz-se acompanhar de Maria da Graça Carvalho e Alfredo Sousa de Jesus, do seu gabinete, de Francisco Nunez Correia (membro do gabinete de estudos do PSD em matérias ambientais e Ministro do Ambiente entre 2005 e 2009),  de José Inácio Faria (do PT) e de Inês Zuber (PCP).

Criado pela Comissão Europeia, este grupo integra uma rede de grandes empresas de água e outras multinacionais com interesses financeiros diretos no sector da água, nomeadamente a Coca Cola, a Dow, a P + L, a Shell, a Saudi Aramco, a Suez Environnement, a United Utilities, e a Veolia, ao lado de empresas menores e de instituições académicas e de investigação. Nenhuma ONG ambiental, nenhuma associação de defesa do consumidor, nenhum sindicado parece fazer parte de uma lista com mais de 150 membros. Sublinhe-se que 36% do conselho de administração da WssTP é integrado por representantes da Suez e da Veolia. 

Conclusão: ao aceitar o apoio da WssTP, o EP Water Group, embora se considere "o ponto focal para o tema água no Parlamento Europeu", promove, de facto, uma agenda apoiada por interesses corporativos. A falta de transparência pública relativamente aos seus membros e fontes de financiamento, juntamente com o uso altamente duvidoso do logotipo do Parlamento, desacredita-o ainda mais. CEO.


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