quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Bico calado


Não há mal que lhe não venha

Passos Coelho, pelo Relvas ajudado
Em poucos anos subiu a um alto lugar,
Perdeu agora a sua pena de voar,
Ganhando a dura pena do derrotado.
Já não tem no partido, nem no aliado,
Asas suficientes com que se sustenha:
Pobre do Pedro, não há mal que lhe não venha.

Travestiu-se de PàF, p’ró Povo ludibriar,
Mas, nas urnas, desta vez saiu derrotado,
E, sentindo que assim ficou desasado,
Sabe agora que para poder regressar
Ao poder, e mais pertinho do pote ficar,
Já nem de Belém poderia vir mais lenha
Pobre do Pedro, não há mal que lhe não venha.

E agora, que mereceu ser convidado –
Pra apresentar um “monte de pura bosta”,
Por má fortuna, triste e reles aposta –,
Ou p’lo Diabo, que tinha anunciado,
Viu-se, cobardemente, a ser obrigado
A roer, da palavra a leve entranha:
Pobre do Pedro, não há mal que lhe não venha!
Via Estátua de Sal.

«Segundo este entendimento da minha profissão é natural jornalistas e políticos percorrerem juntos os mais caros restaurantes de Lisboa para negociarem notícias, traficarem timings de publicação, emporcalharem reputações, congeminarem manobras, conceberem planos governamentais, ajudarem a eleger líderes partidários, interferirem noutros media.
Segundo este entendimento, é natural jornalistas irem aos palácios do poder ouvir "confidências" de presidentes e governantes, darem "conselhos" aos poderosos, aceitarem publicar notícias de veracidade duvidosa e verificação impossível, transformar palpites adivinhatórios em factos, assegurar - nos tempos difíceis - mútuos empregos e colaborações bem remuneradas.
Segundo este entendimento, é portanto natural políticos e jornalistas de topo, proclamando independência e separação de águas (...) trabalharem juntos, horas ao telefone, para, em primeiro lugar, perpetuar o estatuto das respetivas castas e, em segundo lugar, gerir a luta entre fações que, conjunturalmente, divide essas castas.
Neste jornalismo é natural não haver povo, não haver cidadãos, não haver país, não haver nada para além do pequeno círculo palaciano. Mas também não há, como se constata, leitores de jornais fora das franjas de cada uma destas castas.» Pedro Tedeu in José António Saraiva escreveu para a HistóriaDN 27set2016.

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