sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Bico calado

  • «O livro permite compreender que Cavaco é, sobretudo, uma pessoa que remói. Saiu de Belém e foi para casa remoer coisas. No início do 14º capítulo, o ex-presidente afirma: “Não tenho dúvidas de que teria sido um Presidente da República diferente se não tivesse hábitos de rigor e de trabalho, se a minha formação académica não fosse nas áreas da Economia e das Finanças, se não tivesse sido primeiro-ministro durante dez anos (…).” Escassos cinco parágrafos mais adiante, volta a dizer: “A minha experiência como primeiro-ministro, os conhecimentos de Economia e Finanças (…) e os meus hábitos de rigor e trabalho foram particularmente úteis (…).” Antes disso, já tinha explicado o seu projecto: “(…) pôr o meu saber e experiência ao serviço do país, de modo a que a situação fosse melhor do que seria se a escolha do povo português (…) tivesse sido outra.” E, página e meia depois, repete: “Estou convencido de que (…) contribuí para que a situação económica e social do país fosse melhor do que se tivesse sido outra a escolha dos portugueses.” Trata-se, por isso, de uma obra que se insere num novo género: memórias de uma pessoa que está desmemoriada. Não se recorda que já recordou o que está nesse momento a recordarRicardo Araújo Pereira in Recordações da casa cor-de-rosaVisão 16fev2017.
  • « (…) ainda subsistam reticências e resistências, por parte dos dirigentes da ANMP e de alguns autarcas, quanto à legitimidade de a sociedade civil escrutinar o desempenho das instituições que ocupam temporariamente e mediante a delegação de poder através do voto popular”.» João Paulo Batalha, diretor executivo da Transparência e Integridade, - in Público 23fev2017.
  • «Agora há esta dos 10 mil milhões que “fugiram” para offshores, assim, sem mais nem menos… Pois. Era então o tal Paulo Núncio o tipo que devia controlar essas “coisas”, mas, coitado, andou tão ocupado a organizar a tal “Lista VIP” que escapou-lhe esse pormenor. E os 10 mil milhões lá foram. Foram, foram, um ar que lhes deu. (…) Antes de chegar ao Governo, o dirigente do CDS assessorou multinacionais no offshore da Madeira e o fabricante dos blindados no caso das falsas contrapartidas. No governo, destacou-se pela amnistia fiscal aos Espírito Santo que “lavou” as luvas dos submarinos e pela isenção milionária aos grandes grupos económicos. (…) No seu currículo de advogado fiscalista tem as sociedades Morais Leitão, Galvão Teles & Associados (MLGTS) e Garrigues & Associados, desde 2007 até à entrada no Governo. Na primeira, esteve ligado ao ramo do escritório para o offshore da Madeira, sendo representante da MLGTS Madeira Management & Investment SA. Esta sociedade foi apontada no livro Suite 605 como a criadora de um grupo de 112 sociedades com o mesmo nome, operação de clonagem que levou a investigações judiciais com origem em Itália. Antes das eleições de 2011, foi chamado por Paulo Portas para as reuniões com a troika, na altura apresentadas como “negociações”» Página Global.

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