sexta-feira, 19 de maio de 2017

Bico calado

Assunção Cristas, uma verdadeira artista.
  • «A correspondente da RTP em Paris é uma verdadeira parvinha ignorante quando diz que o governo constituído hoje em França é uma "geringonça" à portuguesa! Já tivemos que aturar durante semanas a atenta simpatia com que seguia a campanha eleitoral de Marine Le Pen, incapaz de lhe dar a devida dimensão e de a situar no devido contexto. Temos agora que aturar a sua triste ignorância !... Pergunta : para que serve ter uma pessoa assim como correspondente em Paris, à parte o facto de se lhe oferecer uma agradável estadia na "cidade luz" à custa dos dinheiros públicos?!... Basta conhecer a política francesa para se constatar que o que aquela Senhora diz é de uma total indigência... Pequena explicação para ajudar a Senhora correspondente a compreender o essencial: (1) em Portugal, está no governo um ÚNICO partido (o PS) que celebrou acordos com os três partidos presentes no parlamento que se situam à sua esquerda (BE, PCP e PEV), (2) em França, o governo que entrou em funções hoje conta ministros e secretários de Estado que provêm de CINCO partidos políticos (LR, MoDem, REM, PRG e PS: um de direita, dois dos centro e dois de esquerda) a que vieram juntar-se individualidades provenientes da chamada sociedade civil. Tendo ficado do fora os partidos correspondentes aos portugueses situados à esquerda do PS. Tudo é pois de natureza a que comparações absurdas não tenham lugar de ser... para quem conhece minimamente a política francesa, a política portuguesa e a política "tout court" !… Uma pergunta que se impõe é a de saber quais são os critérios de escolha de um correspondente da RTP no estrangeiro e neste caso numa das principais capitais europeias?!… (…) detesto o termo "geringonça". Um jornalista sério num jornal sério não deveria sequer utilizar tal termo. Até porque, que se saiba, Vasco Pulido Valente e Paulo Portas não o utilizaram para fazerem uma análise política rigorosa, mas sim para desacreditarem logo de início os acordos realizados à esquerda pelo PS. Segundo: eu poderia explicar à ignorante correspondente da RTP que o governo português resultou de uma negociação conduzida pelo líder do principal partido de esquerda que, num contexto pós-eleitoral legislativo, celebrou acordos com três partidos situados à esquerda do seu. Quando no caso francês, o governo de hoje resulta de uma iniciativa pós-eleitoral presidencial conduzida pelo novo presidente da República numa fase de ausência temporária de parlamento (que foi dissolvido). Depois das próximas eleições legislativas, é mais que provável que a configuração do governo francês venha a mudar, mas é muitíssimo pouco provável que possa vir a ter parecenças com o português. Mas atualmente, nada permite dizer qual será a futura configuração da Assembleia Nacional e do Senado em França depois das eleições de junho… Falar pois de "geringonça" é totalmente absurdo e de natureza a não permitir que os espectadores portugueses possam compreender o que quer que seja da situação francesa. É semear confusão nos espíritos! Repito : para quem como eu acompanha diariamente a política francesa há mais de 50 anos, a pobre correspondente da RTP em Paris é de uma inacreditável mediocridade e ignorância!» Nobre Correia, FB.
  • Mata Bicho malha na corja do CM, Mata-bicho 18mai2017.

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