sexta-feira, 9 de junho de 2017

Bico calado

Imagem apanhada aqui.
  • «(,,,) Podia ter sido um debate com o primeiro-ministro, mas um jornalista não deve adoptar uma atitude de opositor político nem de porta-voz do governo anterior. José Gomes Ferreira pode pensar que sim, mas isso é apenas porque não distingue a função de jornalista da de propagandista. Acontece muito. (…) José Gomes Ferreira não percebe o papel do entrevistador, acha que o papel de jornalista é demasiado apagado e quer ser um actor político. José Gomes Ferreira é demasiado vaidoso para fazer entrevistas. Recusa-se a aceitar que, numa entrevista, o entrevistador não é (e não deve ser) a pessoa mais importante. José Gomes Ferreira só devia fazer comunicações ao país. Podia ter sido um debate com o primeiro-ministro, mas o objectivo de uma entrevista é ouvir o entrevistado (confrontado com verdadeiras questões, de preferência difíceis) e José Gomes Ferreira gosta demasiado do som da sua própria voz para deixar ouvir o entrevistado. José Gomes Ferreira acha que interromper constantemente o entrevistado para dar a sua opinião é sinal de firmeza. Não é. É apenas sinal de nervosismo e falta de profissionalismo. José Gomes Ferreira pensa que um jornalista deve fazer política e até ter um programa de governo. Não deve, mas José Gomes Ferreira não percebe porquê e nunca percebeu que a única política que um jornalista deve fazer é produzir informação idónea e ser intelectualmente independente. A grosseria e a falta de profissionalismo de José Gomes Ferreira é tal que chegou a tratar o primeiro-ministro (porque era o primeiro-ministro que estava a ser entrevistado) por “o António" no tom displicente com que trata as personalidades à esquerda e em contraste com a subserviência com que trata os empresários e os poderosos da direita e por lhe lançar tiradas como “Ah, já percebi, andou a estudar jornalismo” com uma grosseria rara em circunstâncias semelhantes. A entrevista foi útil para os portugueses, apesar de José Gomes Ferreira, porque António Costa esteve tão bem e teve tanta paciência que conseguiu manter um discurso coerente e claro e teve a elevação de não responder a nenhuma das provocações do entrevistador. Mas José Gomes Ferreira devia ir inscrever-no no PSD do seu coração, deixar o jornalismo e continuar na SIC a fazer comentário político e comunicações ao país (…). » José Vítor Malheiros, FB. A propósito: «(…) A realidade, porém, não só ultrapassou a imaginação como a atropelou e fugiu. No único momento em que José Gomes Ferreira se lembrou de insistir numa pergunta, Pedro Passos Coelho franziu o sobrolho e levou o jornalista a escusar-se: “Desculpe, foi um impulso jornalístico”. Quando um jornalista pede desculpa por fazer jornalismo, está tudo dito. Um dia, este Governo conseguirá que os juízes peçam desculpa por fazer justiça, os pensionistas por estarem vivos e os desempregados por ainda não terem emigrado. (…)» Rui Tavares, Público 16abr2014.
  • «"Não se brinca com uma empresa cotada, lançando denúncias anónimas". A frase é de Eduardo Catroga e marca um antes e um depois nesta absurda história das suspeitas de corrupção na EDP e na REN. Antes, ainda podíamos ter umas quantas dúvidas quanto ao facto de a EDP andar a receber milhares de milhões de euros à conta de rendas impossíveis de compreender, mesmo que nos façam um desenho. Depois, percebemos que isto é coisa de magistrados mal-intencionados que acreditam em fábulas contadas por cobardes que atiram a pedra e escondem a mão. Ao contrário de Eduardo Catroga, que esse dá sempre a cara em defesa da honra e dos lucros de quem lhe paga o salário (coisa pouca, 45 mil euros por mês). Para quem duvidar da probidade do ex-ministro das Finanças e ex-negociador com a troika (sempre por escolha do PSD), basta recordar o episódio de abril do ano passado (é fácil de encontrar no Youtube), em que se colou ao primeiro-ministro António Costa, puxando-lhe insistentemente pela manga do casaco, enquanto pedia uma palavrinha em nome dos acionistas chineses da EDP: "Se você precisar de mim para eu dar aí alguns entendimentos eu disponho-me a isso. Porque eu tenho essa visão da política que não é partidária!" Verdadeiramente exemplar. Depois disto, e perante mais um aperto para a EDP, só poderia ser ele a assumir a responsabilidade de defender a honra do convento. Julgo que os portugueses ficaram convencidos. Bem podem lançar suspeitas sobre os gestores que andam a alternar entre a EDP, REN, BES (e o sucedâneo Novo Banco) e os gabinetes governamentais. Bem podem por aí vir falar de um ministro, o que negociou as rendas, e que também andou pelo BES - ainda que no imaginário popular seja para sempre o dos "corninhos" no Parlamento -, por ter dado umas aulas na Universidade de Columbia, em curso patrocinado pela EDP. É tudo fruto de trabalho esforçado e prestígio internacional. Ou, para usar o complexo léxico de Eduardo Catroga, tudo gente disposta a fazer "entendimentos". Gente que não tem da política uma visão partidária, antes uma visão de negócio, que é como deve ser. Nada que se deva confundir com corrupção e outras palavras feias que não condizem com os sapatos lustrosos e os fatos de corte impecável das nossas elites. Depois de ouvir Eduardo Catroga e as suas frases eletrizantes o que apetece mesmo é ir a correr pagar os 470 euros (mais juros) que, dizem-nos, cada um dos 10 milhões de portugueses está a dever às empresas produtoras de eletricidade. E isto é assim porque, pelos vistos, andamos a pagar um preço demasiado baixo pela eletricidade. Apesar de ser dos preços mais caros da Europa. Não perceberam? Perguntem ao Catroga, ele explica.» Rafael Barbosa in Com o Catroga não se brincaJN 8jun2017.
  • Ex-secretário de Estado da Energia, Henrique Gomes, e Ex-ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira admitem que foram manietados pelos lóbis. RTP.

1 comentário:

OLima disse...

Adenda ao Bico calado:
Mata-bicho arrasa Zé Gomes Ferreira. Antena1 9jun2017.
https://www.rtp.pt/play/p2818/e292802/mata-bicho